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Foto do escritorSrta.Mih

O inferno nos espera, meu amor



São absolutamente 12 horas desde que você se foi. Abro um vinho e despejo em duas taças me sentando na poltrona onde você gostava de sentar, vestindo apenas aquela lingerie que você adorava que eu colocasse.




Deixo uma taça intocável ali ao lado como você costumava deixar me esperando, dessa vez a espera é minha, mas infelizmente você não chegaria usando a melhor roupa para estar comigo.


Nós nos conhecemos em uma terapia em grupo, você chegou vestindo aquelas botas de combate, sua jaqueta de couro e aquele perfume forte que chamou minha atenção no momento em que se sentou na cadeira vazia. Repousou o capacete da moto ao chão e sentou de pernas abertas como se o mundo abaixo dos seus pés fossem seus. Não disse uma palavra, eu podia não saber qual era o som da sua voz, mas o olhar....aquele maldito olhar de quem poderia e faria o que quisesse. Sabia que estávamos todos ferrados naquela sala.


Um a um, os idiotas foram dizendo os motivos pelo quais estavam ali sentados. Minha vez havia chego e eu repeti minha história sobre a morte de meus pais, causados por um incêndio acidental. E que a razão de eu estar ali era apenas por pedido do psiquiatra que achava que a perda podia ter me causado algum transtorno, só mais um miserável.


Ele me olhou profundamente como se soubesse, o maldito sabia que eu estava mentindo mesmo sem me conhecer e eu sabia pelo seu olhar que ele me decifrava a cada palavra.


Terminei de contar minha história, mais alguns contaram as suas. Chegou a vez dele e ele apenas passou a mão por dentro da jaqueta e retirou um revólver dali olhando friamente para cada um, era possível ver o caos nos olhares de todos. Os malditos não sabiam o que fazer, congelados de medo. Ele sorriu, era óbvio que tudo saíra como planejou. Apontou para o terapeuta que dizia palavras como: por favor, não faça...bum. o tiro parecia ecoar pela sala. Houve gritos, ele sorria enquanto todos corriam e choravam e eu permaneci ali. Ao contrário dos outros não era medo que estava em meus olhos, era admiração. Ele tinha um olhar tão sexy e seu sorrisso ao apertar o revólver era tão angelical que me apaixonei. Me apaixonei por aquele anjo caído.


Ele vestiu a jaqueta e colocou o revolver de volta em seu cinto, acendeu um cigarro e me olhou. Deu uma tragada longa e soltou a fumaça, parecia se perguntar o porquê eu não havia corrido, soltou um sorriso ao canto da boca e murmurou:


-Estado de choque...


Eu não consegui me segurar e gargalhei, minha barriga doía de tanto que ri da falha dele de me decifrar. Ele riu. Me jogou o capacete que estava ao chão.


- Quer dar uma volta?


Ao longe som de sirenes, concerteza era questão de tempo dos policiais chegarem ali. Eu coloquei o capacete e o segui passando por cima de alguns corpos, sai pelo local e subi na moto atrás dele. O cheiro daquele perfume pareceu passar por mim enquanto revivia essa lembrança. Não fomos presos, fugimos da cidade e vivíamos numa cidadezinha longe da onde ocorrerá. Juntos planejamos muitos assassinatos de mulheres viúvas acumulando muito dinheiro que elas davam para ele ao se apaixonarem, enquanto eu..eu me passava por sua irmã. Óbvio que isso iria dar errado um dia. O maldito se apaixonou e iria me largar para ficar com uma viúva jovem. Como me senti? Traída.. eu que conheci seu pior lado sempre estive ali. Eu que matei, encobri e fugi com ele todos esses anos. Eu que fiz tudo por amor. Lhe disse que iria aceitar a separação e que assinaria os papéis e enquanto segurava a caneta de pena fingindo assinar, enfiei a mesma em sua jugular. O sangue correu por todo papel do divórcio.


-Estado de choque meu amor?


Ele me olhava enquanto tentava segurar em vão o lugar que eu furei. Retiro uma vaca presa por fita debaixo da mesa e acerto várias vezes seu corpo até o seu olhar não ser mais sexy. Me troco e vou até a casa da jovem, ela sabia quem eu era. Tiro o revolver do cinto e acerto sua cabeça no momento em que abriu a porta. Maldita.


12 horas se passaram. A casa está coberta de gasolina igual quando matei meus pais. A lareira está quente. O inferno nos espera, meu amor.




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