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Foto do escritorDean Winchester

O Ahó Ahó está mais PERTO do que imagina

“Cuidado! Ele está à espreita só esperando o momento para devorar sua carne e beber seu sangue.” Meu pai dizia enquanto fechava a porta lentamente deixando apenas a luz do abajur acesa para dar um pouco de luz ao quarto. Eu sei que esse não é um jeito delicado e fofo de colocar um filho para dormir, mas esse era o meu castigo caso fizesse algo ruim no dia. Era a frase que ele sempre dizia antes de sair do quarto e me deixar apavorado. Meu pai tinha um jeito bem pesado de me castigar. Ele não era do tipo de pegar o cinto e me bater até eu ter aprendido a lição, não, ele era do tipo de pai que simplesmente me aconselhava após ter feito algo errado e antes de dormir, me contava uma história de terror macabra. Era um tipo de terror psicológico que gelava minha espinha e fazia-me querer que ele me batesse ao invés disso, e ele sabia que esse castigo era melhor do que bater. Para uma criança de 10 anos era o suficiente para não querer errar novamente. A história que ele me contava era sobre o Ahó Ahó, um tipo de monstro que devorava as pessoas se elas desobedecessem. Ele me dizia que antigamente havia algumas missões jesuítas onde vários índios eram tirados de suas aldeias para ir a essas missões, mas alguns deles desobedeciam aos padres que os acompanhavam e tentavam regressar para suas aldeias. No meio do caminho, eles eram perseguidos pelo Ahó Ahó, e mesmo antes de chegar próximo às suas aldeias, eles eram desmembrados e comidos, tendo todo o seu sangue sugado restando apenas vísceras, alguns órgãos e a cabeça. O Ahó Ahó é um tipo de mostro, muito parecido com uma ovelha, mas grande, com chifres e garras, que solta um tipo de fumaça preta pela boca e que está sempre à espreita para devorar alguém. Um tipo de lenda que existe a gerações, mas que muitos acreditam que ele exista. Muitos acreditam que ele aparece apenas nas matas e florestas, mas tem aqueles que dizem que ele também surge na parte urbana da cidade, escondido na escuridão, com fome de carne fresca. Morria de medo quando meu pai contava essa história, mas procurava acreditar que tudo era apenas uma lenda do folclore local, mas como dizem, toda a história carrega um pouco de verdade em si. Cheguei cedo do colégio hoje e fui para a cozinha fazer um lanche, meus pais ainda não sabiam, mas havia ficado com nota vermelha em três matérias. Eu sabia que a noite teria o tão tenebroso castigo novamente, pois meu pai já havia me alertado sobre isso, então tratei logo de me preparar psicologicamente antes de qualquer coisa. Assim que minha mãe chegou do trabalho fui falar para ela o ocorrido. Ela sempre chegava primeiro que meu pai, então tinha mais um pouco de tempo. Após um sermão de mais de 15 minutos, ela me mandou para o quarto esperar meu pai chegar do trabalho, o pior momento do dia. Por volta das 21h, ouvi quando o carro foi estacionado na garagem e a porta de casa sendo destrancada e aberta. Ouvi um tipo de rosnado de cachorro vindo do andar de baixo da casa. Estranhei, não tínhamos cachorro em casa, e por mais que os vizinhos próximos tivessem, meu pai não gostava de animais, então fiquei ouvindo atentamente aquele barulho. Sons de batidas e um estrondo como se algo fosse arremessado com força na parede ecoou por toda a casa. Imaginei meus pais brigando, mas nunca havia presenciado uma briga deles, nem ao menos discussão, então agressão física estaria fora de cogitação. Não havia gritos, gemidos ou algo do tipo, apenas um rosnado estridente e alto. Passos como de alguém correndo foi se aproximando da porta do quarto cada vez, seguido de um barulho de algo caindo ao chão e sendo arrastado. Cobri-me com o coberto com a esperança de que isso me protegesse do que estaria por vir. Não conseguia correr, gritar ou esboçar qualquer sentimento, apenas paralisei ali, deitado na cama enrolado ao coberto onde me sentia seguro. O barulho de carne sendo rasgada e algo mastigando fazia meus medos aflorarem dentro de mim. Após alguns minutos desses sons infernais, tudo ficou em silêncio. Torcia para que não passasse de uma encenação do meu pai para incrementar algo a mais em seu castigo. Ouvi passos vindos lentamente na direção do quarto, quando parou e forçou a maçaneta. Um sentimento de decepção tomou conta de mim quando lembrei que não havia trancado a porta. Tirei o cobertor e levantei minha cabeça lentamente para ver quem era, e mesmo antes de esboçar qualquer reação, uma fumaça negra tomou conta do lugar fazendo-me perder a voz por completo. Não conseguia gritar ou falar algo. Olhei e vi o Ahó Ahó parado na frente da porta, deixando todos os seus dentes pontiagudos amostra em um sorriso atormentador. Sangue juntamente com uma gosma preta escorria sobre sua boca e caia ao chão. A fumaça negra ainda estava por todo o quarto, mas conseguia ver claramente a figura horrenda das história do meu pai, um tipo de ovelha monstruosa, com forma humanoide, garras e uma altura que ultrapassava a porta do quarto. Ele deu alguns passos em minha direção, olhou diretamente em meus olhos e disse: “Cuidado! Ele está à espreita só esperando o momento para devorar sua carne e beber seu sangue.”.

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