2020 foi um ano repleto de surpresas, um vírus mortal se alastrou no mundo, nuvens de gafanhotos, terremotos dentre outras catástrofes naturais e também causadas pelas mãos humanas, mas conseguimos sobreviver, pelo menos os que conseguiram se curar do vírus e os que não foram infectados. Todos achavam que seria o começo da extinção humana, com direto a mortos vivos andando por todos os lugares, mas nada tão anormal assim aconteceu.
Chegamos em 2021 juntamente com a vacina que prometia não a cura, mas 50% a 70% de chance de não ser infectado e se caso fosse, usaria essa mesma porcentagem nos sintomas. Já estávamos nos acostumando com a ideia de todos os dias sair de casa com máscaras, usar álcool em gel e manter o distanciamento social quando algo chamou nossa atenção.
Um vídeo, aparentemente amador, se tornou viral em todas as mídias sociais. Em uma duração de 27 segundos, a imagem de um ser com chamas saindo de sua cabeça, vestido apenas com uma roupa íntima feita de folhas de palmeira andava pela mata. O vídeo se intitulava: “Curupira flagrada na mata do Rio Grande do Sul. Vídeo real.”.
O vídeo parecia ter algum tipo de edição, mas mesmo assim chocou o Brasil inteiro e outros países por onde ele passou. A loucura foi tanta que levaram o suposto vídeo para alguns especialistas em programas de TV e nenhuma edição foi encontrada, nenhum tipo de manipulação ou algo do tipo, isso intrigou a todos no mundo inteiro, um ser das lendas brasileiras visto andando pela mata era algo difícil de acreditar.
Muitos não acreditaram, obviamente, mas outros tantos foram atrás do tal ser em busca de vê-lo de perto e quem sabe registrá-lo em vídeo. Ligava a TV e era a notícia que se espalhava por todos os canais, todos queria noticiar o misterioso ser gravado no interior do Rio Grande do Sul, mas quando achávamos que a loucura já havia alcançado seu pico máximo, outro vídeo foi upado nas redes sociais com uma suposta Iara, a sereia no folclore brasileiro, deitada em uma rocha no litoral de Recife.
O vídeo de 30 segundos mostrava uma mulher sentada nas pedras no meio do rio balançando sua cauda, com lindos cabelos ruivos. A filmagem foi feita de uma distância um pouco grande de onde ela estava, mas o cinegrafista amador deu zoom e pudemos vê-la por alguns segundos antes de ver que estava sendo filmada e cair na água. Novamente o vídeo rodou o mundo inteiro sendo levado a vários programas de TV e a vários especialistas digitais para ver a veracidade do mesmo, mas novamente nenhum tipo de manipulação foi encontrado.
O que estava acontecendo? As lendas do nosso folclore estavam ganhando vida ou apenas bons atores e editores de vídeos querendo ganhar algum dinheiro e fama nisso tudo? Nenhum dos autores dos vídeos e nem quem publicou apareceu para dar alguma explicação e nem foram encontrados. Todos já estavam pirando com toda essa situação quando mais um vídeo foi compartilhado. Dessa vez, um menino negro com roupas de escravo, sentado em um cavalo foi filmado andando pela mata em outro estado brasileiro.
Esse garoto se encaixa na lenda do Negrinho do Pastoreio onde uma criança negra foi morta por um fazendeiro que o tinha como empregado em sua fazenda. O vídeo foi analisado e nenhuma manipulação foi encontrada, assim como os outros. Esse foi o momento em que todos que não acreditavam, passaram a acreditar e a ir atrás desses seres folclóricos. Muitos passaram a ter medo, outros, admiração por esses seres que até então só faziam parte do nosso imaginário e das histórias de filmes e livros.
Muitos ficavam se perguntando se isso seria algo ruim, se essa seria algum tipo de manifestação demoníaca, presságio para o fim do mundo ou algum tipo de histeria coletiva onde todos estavam vendo a mesma fantasia. De Março a Outubro, vários outros vídeos com seres do folclore foram upados na internet, Caipora, Cuca, Mula sem cabeça, todos sem nenhum tipo de manipulação ou edição.
Cada vez mais pessoas ficavam admiradas, outras com medo e pavor do que poderia acontecer com a revelação desses seres em nosso mundo. Como isso afetaria a nós e ao mundo era uma incerteza, mas a descoberta deles trouxe um pavor a mais para o mundo além do coronavírus.
Não sabemos se eles faram mal a nós, se iram nos caçar ou tentar nos matar, mas o mundo precisaria saber da nossa existência, de onde a fartura de peixes nos vinham, como a mata era tão protegida, como nós os livramos de outros seres medonhos que habitam a escuridão. Eles precisavam saber. Nós apenas somos seres protetores, que desde a criação do mundo pisamos na terra, e já estava na hora sairmos de nossos esconderijos. Peguei um tripé e, virando a câmera para mim, fui o último a ser filmado para assim postar nas redes sociais, e foi o que fiz. No dia seguinte, o vídeo que mostra o Saci Pererê já estava espalhado por todo o mundo. Vivemos entre vocês, desde que o homem é homem.
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