Terça, 17 de novembro de 2020, ainda estamos encarando o vírus e essa pandemia está tirando de mim o pouco da paciência que ainda me resta, se vocês tem filhos, devem saber como me sinto com mulher e duas filhas dentro de casa, um verdadeiro inferno, toda hora briga, com as meninas que não querem coisas que vão desde comer a assistir as irritantes aulas onlines até minha esposa, que não cansa de reclamar de tudo, como se fosse possível eu, em toda insignificância de minha existência, exterminar o vírus da face da terra, queria, mas não iria conseguir fazer isso tão cedo…
Bem, dentro deste inferno de convivência, era um dia normal, as crianças almoçavam enquanto minha esposa colocava sua comida, a campainha tocou e segui até o portão onde fui surpreendido por uma arma em minha cara, era um homem, alto e forte, cabelos pretos, barba volumosa e roupa toda preta, ele mandou que eu entrasse, eu tentei falar algo mas ele me mandou ficar quieto, eu o conhecia. Ele entrou em minha casa e de imediato minha esposa se juntou com as meninas no canto do sofá, ela implorava para que ele não fizesse nada e sempre que podia desviava o olhar para a Bíblia que mantínhamos aberta na estante, na página que dizia "Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará.", o homem notou e logo foi até o livro sagrado.
"O esconderijo do altíssimo" dizia ele em tom de desprezo e um doentio sorriso no rosto "Quanto tempo não estive nesse maldito esconderijo…" sua voz agora transmitia ódio e seu olhar se tornava ameaçador…Ele então olhou fixamente para minha esposa e perguntou para ela, estranhamente agora usando um tom mais ameno… "Você acha que o esconderijo do altíssimo pode livrar sua filha do mal?" Ela parou por algum tempo, eu gritei que não, ele me mandou ficar calado enquanto apontava a arma para a minha cara, minha esposa, sob pressão, apenas conseguiu consentir com a cabeça para a pergunta que ele havia feito e ele continuou "Então vamos descobrir" ele agarrou uma de minhas filhas pelo braço e a puxou tão forte que minha esposa foi incapaz de conter a ação dele, logo que ela tentou se levantar e correr atrás dele, o sujeito apontou a arma para a outra menina, e ela recuou. Enquanto caminhava em direção ao meu quarto, ele continuava o discurso "Sabe, eu não conheço todos os esconderijos do altíssimo não, mas sei um que ele cria… que ele faz a gente entrar e se esconder para ficar protegido, e a verdade é que dentro deste maldito armário a gente apenas sente mais dor" ele então jogou a menina dentro do closet no meu quarto e antes mesmo que pudéssemos fazer algo, disparou três tiros. "Vamos ver se o altíssimo a protegeu?" O sangue escorria por debaixo da porta.
Não pude correr até o closet para tentar socorrer minha menina, ele mandou que voltássemos para a sala e eu o chamei pelo nome "Marcos, porque está fazendo isso? Por favor, para" eu chorava desesperado, minha esposa não entendia nada, ele notou, e logo começou a falar o que estava acontecendo "Seu querido marido, é meu namorado, 3 anos 8 mêses e 2 dias, a anos ele fala que vai terminar com você, mas adivinha? Nunca termina… E eu fico lá, como uma vadia, uma meretriz, esperando que isso mude, mas hoje eu resolvi mudar.". Ele terminava de falar e meu desespero aumentava, minha esposa começou a me xingar, disse que sempre soube que eu não era um homem de verdade, que iria contar para todos se saíssemos dali com vida, tudo aquilo me golpeava como facadas, doía, eu me levantei. "Marcos, eu nunca menti para você, eu sempre te amei, por favor, acredita em mim." Falei carinhoso.
Marcos sorriu, mas se recusava a acreditar, pedia para eu provar e eu mal conseguia imaginar como, mas uma luz me veio como uma ideia divina "Atire nelas, pode matar as duas, na cabeça, ao menos quero que seja indolor, depois disso, viveremos juntos, pois ainda continuarei te amando." Ele sorriu, uma lágrima escorreu pelo seu rosto indo até a barba "Você está falando sério?", Afirmei que sim e novamente me declarei a ele e não demorou, ele logo atirou em minha esposa e filha que estavam no sofá, não na cabeça, perfurou seus corpos e rosto, ela gritavam de dor e minha esposa agonizou até a morte, ele esperou até o último suspiro de ambas, que me feriam a alma e então perguntou em tom delicado "Você ainda me ama?" respondi com um beijo, o agarrei forte e o beijei como se não houvesse amanhã, nossas barbas se encontrava, nossas línguas se buscavam, era intenso… Passei minhas mãos pelo seu cabelo, acariciei e logo que trouxe minhas mãos até as laterais de seu rosto, virei sua cabeça para o lado ao passo de o uir apenas um pequeno estalar… seu pescoço quebrado.
Aquele que habita no esconderijo do altíssimo não teme a mal algum… O problema, é que dentro do armário onde nos escondemos enquanto LGBTs, onde ocultamos a nossa verdade, tem dor, tem sofrimento, tem ódio… Mas basta revelarmos a alguém quem somos e os temores do mundo nos cercam, os julgamentos, as acusações, os ataques, às perseguições… Pois é, eu, hoje, não estou pronto para sair do meu armário, sobre hoje, apenas um psicopata em matando em uma família cristã… Amém.
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